2007/11/12

A Carta

Pedro Picoito, outro ilustre fumador de cachimbo, ficou incomodado com o que transparece de uma cartinha que Cunha e Vaz enviou a Pacheco Pereira.

É uma carta indigna de quem a escreve, Cunha e Vaz trabalha para ganhar dinheiro, se Pacheco discorda do uso de Agências de Comunicação é lá com ele.

A carta é indigna de quem a escreve porque, como sugere Pedro Picoito, em boa verdade, não é dele mas de outros. Tanto na forma como no conteúdo tem autores bem diferentes de um responsável por uma entidade privada que presta um serviço. Tem autores políticos que têm esse discurso como marca pessoal.

Vejamos, Cunha e Vaz não tem que justificar nada a ninguém, foi contratado, presta um serviço e é pago por isso, como e quanto diz apenas respeito às partes interessadas.

No entanto, a carta é inacreditavelmente pedante e estranhamente ressabiada, com todas as marcas de quem não gosta de ser questionado – mal ou bem – e mais própria de um militante mal disposto numa qualquer reunião de secção partidária do que de um mero empresário.

O uso de Agências de Comunicação na política não é um acaso, um capricho, mas uma imposição do mundo em que vivemos, a sua eficácia depende tanto da competência como do uso que os partidos lhe resolvem dar. Infelizmente os Partidos Políticos são preguiçosos e procuram conteúdo onde se deviam buscar forma, reside aqui o problema que confundiu quem quer que seja que elaborou aquela carta. Existe aqui uma fronteira que é de facto ténue mas que se agrava quando os responsáveis políticos não podem ou não querem fazer a destrinça entre as suas obrigações e as de quem os assessoria.

Espanta-me que Cunha e Vaz se dê à triste figura de servir de mensageiro, custa-me a acreditar que este tipo de atitudes tenham qualquer efeito benéfico a não ser na gestão de um contrato entre ele e o PSD.

2007/11/07

Devolvam os bilhetes

Dizia o deputado Francisco Louçã a meio do debate de ontem.

Imagino o militante do PSD profundo, recolector de sacos e canetas afundado na cadeira de pau a perguntar-se o que terá acontecido ao seu partido.

Num debate ansiado por todos, uma reedição de velhos tempos, nada surpreendeu.

Sócrates fez o que sempre faz nestas ocasiões, avisado desta vez de antemão pelas fugas estratégicas para os jornais, que se irritava muito facilmente e que Santana iria ajustar contas com o passado, não se irritou e pegou nessa preciosa deixa rebuscando o passado.

Santana veio depois admitir que o debate não lhe tinha corrido bem, o que não comove ou é novidade. De facto, não dá para ser feliz.

O que irrita o militante de base é que o próprio esperava, por comparação com o cinzento Mendes, um Santana incendiário e saiu-lhe um fogacho. Após uma sucessão de tareias parlamentares uma vitória, por pequena que fosse. Nada disso.

Esta primeira batalha parlamentar fez-me lembrar o celebre discurso de tomada de posse com um Santana literalmente aos papeis.

Hoje promete fazer melhor. Tenho as maiores dúvidas.

2007/10/01

PSD, Menezes e Foo Fighters

“Mais que loucura foi esta?” Perguntavam-me do outro lado do telefone. Ri-me e fiquei com a impressão que não fui compreendido, afinal era de esperar uma coisa destas. O povo laranjinha, chamado às urnas, votou de raiva e zangado, com o tempo, com Mendes, com o que imagina que fizeram ao Santana, com Portugal, com os simpatizantes que votaram em Sócrates, com os barões (e ainda se vão zangar mais) e com eles próprios.


(…)Send in your skeletons
Sing as their bones go marching in... again
The need you buried deep
The secrets that you keep are at the ready
Are you ready?
I'm finished making sense
Done pleading ignorance
That whole defense(…)

Berrava o Dave no ITunes – eu não uso o Ipod – sem saber quanta razão tem.

E ainda que…

What if I say I'm not like the others?
What if I say I'm not just another one of your plays
You're the pretender
What if I say I will never surrender?

…é tudo conversa.

Agora cabe o grupo para-lamentar. PSL à frente é cómico, Mendes Bota é caricato, Duarte Lima é impossível…sobra o quê? S. Caetano e um grupo inexistente? O quê?

Nota: os meninos bem que tanto mal disseram do pequeno Mendes podem abrir a boca de espanto à vontade, porque Menezes não vai ser o caseiro que esperavam e a criadagem ocupou a casa, azarucho, para próxima não se armem em parvos, se houver próxima…

2007/09/27

Menezes dá lucro

A imprensa portuguesa provou ontem que despreza quem não está no poder, no caso de PSL, por acaso ex-pm deste pobre aldeamento nas bordas da Europa, a coisa agrava-se e só poderá ser pior com a (possível) liderança bipolar do Dr. Menezes, uma das mais sinistras figuras que o PSD é pródigo em produzir.

A vitória deste senhor é com certeza aguardada com simpatia pelos que se preocupam com shares e audiências. A vitória de Mendes, o caseiro que tem a incumbência de aguentar a coisa até que alguém venha reabilitar o PSD, será uma tragédia para os mesmos.

Menezes garante empregos a numerosos comentadores, que se divertirão a dar facadinhas no pobre entre segunda e sábado e uma subida estratosferica da alocução dominical de Marcelo que lhe aplicará o golpe de misericórdia semanal. Depois é esperar por uma reacção de Rui Gomes da Silva e voilá temos matéria para o resto da semana.

Brilhantismo dos ignorantes

Carlos Abreu Amorim, criatura que por razões que me escapam me afoga com a sua extraordinária eloquência, previsivelmente resolveu dar umas bicadas à equipa de rugby nacional e a ausência de razoabilidade do povo português.
Espantava-me era que não o fizesse, afinal estavam lá todos os condimentos para que esse outdoor de brilhantina escrevesse algo do género, a possibilidade de definir um grupo de pessoas de acordo com os preconceitos que a criatura acarinha, total ignorância sobre o jogo em questão e a mais pequena possibilidade de fantasiar que possui a habilidade de um VPV. Era inevitável.

2007/09/18

Comentador neozelandês após o jogo.

Allblack’s 108, Portugal 13… the score line says it all, but by God, what a fantastic country, I loved Portugal, never seen red and green warn so well.

2007/09/14

Vai uma cachimbada II

Existem boas almas como o Paulo Marcelo que ao que parece, se preocupam muito com as directas do PSD e uma miríade de coisas que a elas julgam ligadas.

Paulo Marcelo, certamente por bondade, eleva a coisa a patamares nunca vistos. A saber, imagina que é benéfico “discutir política” e para tal (aqui escorrega) oferece o exemplo dos debates dos candidatos socialistas nos idos de 2004, fantasiando sobre uma tal de “rampa de lançamento” que impulsionou o decidido Sócrates para o firmamento e por acaso, para PM.

Pondo de parte a história do santanismo, o que João Soares, Alegre e Sócrates discutiam era um mais que provável lugar de PM, com a vantagem de não terem de emitir ideias.

Sócrates provou com competência que era o que tinha menos ideias dos três, Costa descansou, os socialistas também.

Ora, nem Mendes nem Menezes estão a discutir sérias probabilidades de serem o próximo PM, nem será possível – eu diria aconselhável – que discutam ideias.

Assim e bem, Menezes diz que vai para a rua, ouvir os descontentes, o que é um exercício bom para os pulmões desde de que saia do centro de Gaia e Mendes faz mais uma volta ao país e finge que acredita que há verdadeira lealdade nos génios que gerem distritais, secções, juntas e coisas desse calibre.

Paulo Marcelo, que é realmente boa pessoa, acha que existem argumentos que possam ganhar o poder, acha mesmo que se devem ouvir especialistas e “apostar nas pessoas certas” (?!!), cortar com os barões, baronetes e pasme-se cortar com o cavaquismo. (!!!!!!)

Se Mendes leu o artigo, deve ter pensado que se há sujeito que vai ser proibido de entrar na sede é o Paulo Marcelo.

Vejamos, no campo das ideias não há grande coisa a inventar: Entre “apostar na qualidade”, “consensos nacionais”, “pactos” e “apostar na inovação”, “modernizar” e outras coisas que por si só são inatacáveis e qualquer critica indicadora de uma perigosa tendência em se estar contra “o progresso”, não existem muito mais coisas para discutir.

Os portugueses, os militantes partidários sobretudo, não querem que os macem com essa coisa das “ideias”, assim teriam de se recordar que há 300 anos que não se escreve nada sobre teoria económica, politica, social e com a excepção do tresloucado do Oliveira Martins, nada sobre história.

A descoberta, por intermédio de especialistas, de soluções que salvem Portugal do atraso, esbarram sempre no facto de há mais de 30 anos que falamos de reformas na educação que iam catapultar Portugal para o pelotão da Europa.

Todas ideias muito concretas que nem sequer eram ideias, eram e são apenas mecanismos de defesa verbal contra o que qualquer portuguêrs mais abomina, a perda da sua “identidade nacional”.


Caro Paulo, os sociais-democratas – que não existem de resto – acarinham Cavaco como qualquer Torie acarinha Tatcher, sem comparar o génio de uma e a vaidade do outro, se cortarem em alguma coisa é no que os possa irritar.

Tirando isto tudo, Mendes não tem muito para oferecer para além de boas intenções, Menezes desconhece essa possibilidade, os novos militantes já são velhos e rurais mesmo que militem em Benfica ou em Gaia.

O PSD não seria eterno em Inglaterra, França ou Itália, por cá antevejo um futuro brilhante, sempre com a preciosa ajuda das “pessoas certas”.

2007/09/12

Vai uma cachimbada?

Li com gosto uns recados de um grupo de fumadores de cachimbo, que dizem ser de Magritte, o que lhes parece dar um ar pensativo.

Especialmente cómica é a intervenção de Gonçalo Moita, que escreve pouco e se espanta muito. As mulheres espantam-no, coisa que é pouco original, em especial o facto do:

“... século passado (ter sido) fecundo em revoluções. Uma delas foi, sem dúvida, o reconhecimento de certos direitos às mulheres, associado à sua crescente influência e intervenção na vida de comunidades como a nossa. Fora do lar, no fundo…”


Isto é um disparate, sobretudo numa sociedade como a nossa. A única revolução no século passado que importe às mulheres foi a de, muito ao de leve, começarem a mandar menos fora da família do que mandam lá dentro.

Gonçalo Moita, desatento, não percebeu isto: a avó, a mãe até (mas menos), mandaram mais e tiveram mais influência na “nossa comunidade” do que tem a mulher dele.

O quer importa à “nossa comunidade” que as mulheres votem, a estudem mais (sempre estudaram mais), a mandem nas empresas, a chefiar Governos (só me lembro de uma), a fazerem uma multiplicidade de coisas anteriormente reservada aos homens? Zero. Nada mesmo.

A “nossa comunidade”, de homens entenda-se, assobia para o lado e percebe bem onde cortar as perninhas a esse mulherio. Corta-lhes o salário, a subida na carreira e a passagem na fila de trânsito.

O que a “nossa comunidade” não faz ideia é como lidar com a mulher dentro de casa, a nossa, a mãe e a filha.

Deste o tempo das cavernas é o seu reino, por muito contrariadas à força de pancada e exibições verbais dos pais, maridos e filhos.

Em silêncio ou aos berros, na cama ou fora dela, fizemos e faremos sempre o que elas mandarem ou o que acharmos que não as irrita.

Gonçalo Moita sabe isto muito bem ou então é uma mulher.